quarta-feira, dezembro 12, 2007

vento do norte


vento do norte sopra ao cair da noite abraço de amigo

dia quente de inverno um abelhão tardio zumbe à procura do ninho

orvalhada uma gaivota deixa pegadas num tejadilho

nuvens escuras a lua e uma estrela fogem antes da madrugada

luzes de rua caindo do alto uma chuva de folhas

manhã fria nuvens vindas de longe e das nossas bocas

arauto do inverno um abelhão morto no passeio mas o sol brilha!

véspera de natal o riso abafa o ranger da salamandra

sol matutino brilhando na distância neve na serra

madrugada tremem os transeuntes e as estrelas

manhã calma o mundo parece novo depois da chuva

todos os dias uma surpresa no caminho merda de cão

pela manhã sopra um vento frio frio até as bandeiras tremem

mesmo dia mesma hora de novo no meu caminho o galho partido

depois da tempestade tantas folhas diferentes pelo chão

céu azul nos ramos do plátano nu tantos ouriços

nuvens escuras sobre o vale em baixo o arco-íris!

estrela vespertina num céu sem estrelas um avião passa

sol nascente nas árvores e nos telhados fora de alcance

manhã de inverno contra um céu gélido nuvens carmim

persiana entreaberta como desce lentamente o sol nascente

botões novos só as árvores se despem para o inverno

antes das flores anúncio da primavera o cauteleiro

idos de março sinto na língua a primeira chuva

primeira luz uma forma escura passa a primeira gaivota

chuva miudinha gotas brilham nos beirais e no meu casaco

dias de março ora bonitos ora chuvosos hoje caminho

poeira no ar tão doce o odor da chuva fresca

de cima do beiral o gato olha para mim olhos de água

sol nascente a caminho da escola baixo os olhos

brisa matinal sinto-a passar por mim mesmo sem a ver

gestos matinais vestida de tanta cor e alguns botões

à sombra fragrante da árvore florida tapete de pétalas

chuveiro primaveril rápido como veio vai sem deixar rasto

bétula solitária são tantos os agapantos azuis e brancos

hora de almoço através do jardim florido uma abelha

gotas de chuva tremem aqui ora ali os miosótis

o lago no jardim transborda para o caminho não há pressa

no autocarro entre passageiros e bocejos a borboleta esvoaça

numa só palmeira mais de vinte famílias meu deus o barulho!

no velho jardim zumbem moscas e vespas onde estão as flores?

no dia de páscoa não deviam discutir as borboletas

nuvens escuras sobre a serra distante passa o compasso

de regresso por entre as giestas urze e tojo

manhã sonolenta entre pensamentos coço a virilha

passo firme e olhos no chão dente-de-leão

ao luar tudo é sombras pálidas e sombras escuras

pequenos sustos o movimento furtivo dum gato e o ladrar dum cão

via láctea a brilhar no escuro um cigarro

sombras da noite a fugir da alvorada um gato esconde-se

o dia seguinte presas numa vela três traças

libélula verde sai dum velho guarda-chuva os miúdos gritam

sol de verão até o mijo brilha dourado na luz da tardinha

dentes-de-leão um mil-pés tropeça no seu rabo

chuva de verão vai rápido para casa pequena abelha

hora da sesta sob as folhas do salgueiro uma brisa suave

a minha sombra terá ela sombra sua? serei eu?

noite de verão sob o céu estrelado inúmeras cigarras

sem rumo na brisa quente de verão folhas secas

porta aberta quem mais faria parar o gato de passagem?

tão simples! no fim de um dia quente um copo de água

a onda rola com um burburinho os seixos rolam

praia arenosa vespas zumbem ao vento as meninas assobiam

água de limão memórias de ser mais pequeno e os verões maiores

fim de verão moscas agarram-se à pele no fim da vida

calor de outono duas borboleta esvoaçam uma atrás da outra

baldio abandonado o gatinho brinca sozinho às escondidas

tempo de colheita uma longa fila de sementes entre as videiras

chuva de setembro pastando na relva um bando de pombas

higiene matinal tomar banho lavar dentes lamber pêlo

ao sair de casa cuidado pequeno caracol! aqui vou eu

dia de escola decorada com orvalho uma folha seca

num céu sem estrelas vénus e os cornos da lua regresso à rotina

marcha solitária por entre as folhas caídas uma processionária

lua de outubro cornos virados para o mar vai chover

pessoas matutinas a caminho do trabalho sobre folhas caídas

manhã nebulosa autocarros vazios seguem pelas ruas vazias

muro de vermelho o melro voou para longe e não há mais bagas

vénus solitária no caminho para a escola todos dormem

manhã de aulas o autocarro passa à hora marcada

folhas caídas agudas arestas castanhas uma garrafa partida

rua deserta que surpresa somos! gato amarelo

manhã de outono pessoas aparecem na neblina e desaparecem

céu de outono vermelhos laranjas e amarelos também pelo chão

fiapos cinzentos e pálidos sempre em fuga sempre em fuga a glória do amanhecer

pelo chão e sobre o cedro o ácer vermelho

tardinha na erva já alta três cadeiras

chuva de outubro enquanto o sol brilha duas borboletas

tempestade onde passava a rua um rio

o jardim verde de novo sem folhas graffiti sem cor

o caminho longo faz-se todo em passos curtos de regresso a casa