vento do norte sopra ao cair da noite abraço de amigo
dia quente de inverno um abelhão tardio zumbe à procura do ninho
orvalhada uma gaivota deixa pegadas num tejadilho
nuvens escuras a lua e uma estrela fogem antes da madrugada
luzes de rua caindo do alto uma chuva de folhas
manhã fria nuvens vindas de longe e das nossas bocas
arauto do inverno um abelhão morto no passeio mas o sol brilha!
véspera de natal o riso abafa o ranger da salamandra
sol matutino brilhando na distância neve na serra
madrugada tremem os transeuntes e as estrelas
manhã calma o mundo parece novo depois da chuva
todos os dias uma surpresa no caminho merda de cão
pela manhã sopra um vento frio frio até as bandeiras tremem
mesmo dia mesma hora de novo no meu caminho o galho partido
depois da tempestade tantas folhas diferentes pelo chão
céu azul nos ramos do plátano nu tantos ouriços
nuvens escuras sobre o vale em baixo o arco-íris!
estrela vespertina num céu sem estrelas um avião passa
sol nascente nas árvores e nos telhados fora de alcance
manhã de inverno contra um céu gélido nuvens carmim
persiana entreaberta como desce lentamente o sol nascente
botões novos só as árvores se despem para o inverno
antes das flores anúncio da primavera o cauteleiro
idos de março sinto na língua a primeira chuva
primeira luz uma forma escura passa a primeira gaivota
chuva miudinha gotas brilham nos beirais e no meu casaco
dias de março ora bonitos ora chuvosos hoje caminho
poeira no ar tão doce o odor da chuva fresca
de cima do beiral o gato olha para mim olhos de água
sol nascente a caminho da escola baixo os olhos
brisa matinal sinto-a passar por mim mesmo sem a ver
gestos matinais vestida de tanta cor e alguns botões
à sombra fragrante da árvore florida tapete de pétalas
chuveiro primaveril rápido como veio vai sem deixar rasto
bétula solitária são tantos os agapantos azuis e brancos
hora de almoço através do jardim florido uma abelha
gotas de chuva tremem aqui ora ali os miosótis
o lago no jardim transborda para o caminho não há pressa
no autocarro entre passageiros e bocejos a borboleta esvoaça
numa só palmeira mais de vinte famílias meu deus o barulho!
no velho jardim zumbem moscas e vespas onde estão as flores?
no dia de páscoa não deviam discutir as borboletas
nuvens escuras sobre a serra distante passa o compasso
de regresso por entre as giestas urze e tojo
manhã sonolenta entre pensamentos coço a virilha
passo firme e olhos no chão dente-de-leão
ao luar tudo é sombras pálidas e sombras escuras
pequenos sustos o movimento furtivo dum gato e o ladrar dum cão
via láctea a brilhar no escuro um cigarro
sombras da noite a fugir da alvorada um gato esconde-se
o dia seguinte presas numa vela três traças
libélula verde sai dum velho guarda-chuva os miúdos gritam
sol de verão até o mijo brilha dourado na luz da tardinha
dentes-de-leão um mil-pés tropeça no seu rabo
chuva de verão vai rápido para casa pequena abelha
hora da sesta sob as folhas do salgueiro uma brisa suave
a minha sombra terá ela sombra sua? serei eu?
noite de verão sob o céu estrelado inúmeras cigarras
sem rumo na brisa quente de verão folhas secas
porta aberta quem mais faria parar o gato de passagem?
tão simples! no fim de um dia quente um copo de água
a onda rola com um burburinho os seixos rolam
praia arenosa vespas zumbem ao vento as meninas assobiam
água de limão memórias de ser mais pequeno e os verões maiores
fim de verão moscas agarram-se à pele no fim da vida
calor de outono duas borboleta esvoaçam uma atrás da outra
baldio abandonado o gatinho brinca sozinho às escondidas
tempo de colheita uma longa fila de sementes entre as videiras
chuva de setembro pastando na relva um bando de pombas
higiene matinal tomar banho lavar dentes lamber pêlo
ao sair de casa cuidado pequeno caracol! aqui vou eu
dia de escola decorada com orvalho uma folha seca
num céu sem estrelas vénus e os cornos da lua regresso à rotina
marcha solitária por entre as folhas caídas uma processionária
lua de outubro cornos virados para o mar vai chover
pessoas matutinas a caminho do trabalho sobre folhas caídas
manhã nebulosa autocarros vazios seguem pelas ruas vazias
muro de vermelho o melro voou para longe e não há mais bagas
vénus solitária no caminho para a escola todos dormem
manhã de aulas o autocarro passa à hora marcada
folhas caídas agudas arestas castanhas uma garrafa partida
rua deserta que surpresa somos! gato amarelo
manhã de outono pessoas aparecem na neblina e desaparecem
céu de outono vermelhos laranjas e amarelos também pelo chão
fiapos cinzentos e pálidos sempre em fuga sempre em fuga a glória do amanhecer
pelo chão e sobre o cedro o ácer vermelho
tardinha na erva já alta três cadeiras
chuva de outubro enquanto o sol brilha duas borboletas
tempestade onde passava a rua um rio
o jardim verde de novo sem folhas graffiti sem cor
o caminho longo faz-se todo em passos curtos de regresso a casa